Leptina – o hormônio da saciedade

Ganhar ou perder peso, questões relacionadas à obesidade, podem ter implicações bem mais complexas, observam as últimas pesquisas no assunto.
Os cientistas passaram a dar mais atenção a um hormônio denominado leptina, popularmente conhecido como o hormônio da saciedade. Falhas relacionadas a este hormônio podem estar levando milhares de pessoas à obesidade biológica, acreditarem que sejam compulsivas, ou que não tenham força de vontade suficiente para controlar o peso.
Para ampliar o campo de entendimento sobre a complexidade da obesidade, vamos colocar uma lupa sobre a leptina e entender sua relação com o apetite e perda de peso.

O que é a leptina?

 

A leptina é o hormônio que visa manter a homeostasia energética e a quantidade de reservas para a preservação da vida, de modo a garantir a sobrevivência humana durante períodos de falta de alimento. É produzida mais expressamente pelas células adiposas do organismo (adipócitos – células de gordura). Ela informa o cérebro, da presença de tecido adiposo, considerado reserva de energia, induzindo-o ao bloqueio de um neuropeptídeo, que suprime o apetite. Quando as reservas de gordura estão baixas, a diminuição de leptina estimula a produção do neuropeptídeo, gerando aumento de apetite. Já, estando reduzida a secreção de leptina, reduz-se também o gasto energético, a secreção de hormônios tireoidianos, de gonadotrofinas e aumenta a secreção de cortisol, levando ao depósito de gordura.
Além de ser caracterizado como um órgão de armazenamento de energia, o tecido adiposo tem sido estudado e descrito pela sua multifuncionalidade, em virtude de atuar junto ao sistema imunológico e por secretar o hormônio leptina pelos adipócitos.  Possui igualmente função endócrina e tem efeito sobre o sistema nervoso central, participando da homeostasia energética e do controle do apetite.
A leptina é levada pela corrente sanguínea até o cérebro, onde envia um sinal para o hipotálamo (área do cérebro que controla quando e quanto comer), informando a necessidade de comer, orientada pela quantidade disponível em estoque de gordura.

Quando a sinalização da leptina não ocorre corretamente?

No funcionamento normal do organismo, quanto mais gordura corporal as pessoas tenham, mais produzirão o hormônio leptina, e menos apetite deveriam ter.
Porém, quem é resistente aos efeitos deste hormônio, é portador de uma condição conhecida como resistência à leptina, e costuma ter mais facilidade em ganhar peso ou dificuldade em perder.
Em obesos, onde suas concentrações elevadas não condicionam bloqueio do apetite, já que se desenvolve resistência à leptina, pode-se inferir que talvez a leptina não surgisse evolutivamente para prevenir a obesidade. Nas épocas de fome, era útil ter um mecanismo que limitasse a ação da leptina no bloqueio do apetite (resistência à leptina) e o sinalizador era o triglicerídeo, já que essa substância se eleva num período de fome prolongado e dificulta a passagem da leptina pela barreira hematoencefálica..
Embora a leptina desempenhe igualmente funções na fertilidade, imunidade, atividade cerebral, o seu papel principal é o controle do balanço energético do organismo, da quantidade de calorias que ingerimos x queimamos, e o quanto de gordura armazenamos.

 

 

Fonte: Feedback negativo da fome pela ação da leptina – Kris Gunnars

As pessoas obesas, por terem uma quantidade grande de células de gordura no organismo, por sua vez irão produzir uma quantidade maior de leptina, proporcionalmente à massa gorda.
Portanto pela sinalização da leptina ao hipotálamo, estas pessoas não deveriam sentir tanta fome, dada a quantidade de energia estocada em forma de gordura, que mostraria ao cérebro que temos condições de obter energia. Contudo, o problema ocorre exatamente nesta falha de sinalização ao cérebro em informar a existência de estoque energético para a sobrevivência.
Se o cérebro não receber o sinal da leptina, ele irá ter uma interpretação falsa de que o organismo está passando fome, mesmo que tenha energia suficiente estocada. Tal erro de sinalização fará gerar mudanças físicas e comportamentais para recuperar a gordura supostamente em falta, como:

 

1 – Comer mais
2- Reduzir a queima calórica, cansaço, preservação energética
Neste contexto, comer mais e se exercitar menos, não é a causa do ganho peso, mas sim a consequência da resistência à leptina, um problema de ordem hormonal.
Nos casos em que se realiza uma dieta, e perde-se muito peso, consequentemente ocorre redução da leptina. Fato que irá acometer a pessoa de fome, apetite aumentado, menor motivação para exercitar-se e menor queima calórica em períodos de descanso, forçando a pessoa a recuperar o peso perdido como um mecanismo de autodefesa. Isto explica o efeito “ioiô” demonstrado em pós-dietas com a perda e recuperação de peso repetidas vezes.
Alguns fatores que colaboram para gerar resistência à leptina, são os processos inflamatórios no hipotálamo, dietas hiperlipídicas (excesso de gorduras) e incrivelmente altos níveis de leptina sanguínea circulante, também é um fator de risco.
O excesso de gordura na região abdominal, é fator de identificação de que a pessoa tem resistência à leptina. Uma vez identificado o problema, para revertê-lo, deve-se atentar a alguns cuidados:
  • Evitar alimentos processados ou ultraprocessados, uma vez que comprometem a integridade intestinal e levam a processos inflamatórios.
  • Ingerir fibras solúveis, de forma a melhorar a saúde intestinal.
  • Praticar exercícios físicos.
  • Melhorar a qualidade do sono.
  • Diminuir a taxa de triglicérides, reduzindo o consumo de carboidratos, facilitando o transporte da leptina ao cérebro pela corrente sanguínea.
  • Ingerir proteínas suficientes, auxiliando a sensibilidade dos receptores à captação da leptina.

 

Fontes:

LUCI SILVA MENDONÇA; JULIANA APARECIDA RAMIRO MOREIRA. A INFLUÊNCIA DOS HORMÔNIOS LEPTINA E INSULINA NA GORDURA LOCALIZADA. Revista Científica da FHO – UNIARARAS,vol.3,n.2/2015.

SIMONE VAN DE SANDE-LEE, LICIO A. VELLOSO. Disfunção hipotalâmica na obesidade. Arq Bras Endocrinol Metab. 2012;56/6.

DANIEL DAMIANI, DURVAL DAMIANI. Sinalização cerebral do apetite.Rev Bras Clin Med. São Paulo, 2011 mar-abr;9(2):138-45.

Leptin and Leptin Resistance: Everything You Need to Know, Authority Nutrition, Kris Gunnars – BSc.

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